Como controlar a ansiedade em tempos de coronavírus
O medo do desconhecido somado ao isolamento social que estamos vivendo por conta da pandemia do Covid-19 vem tirando o sono de muita gente.
Temos preocupação com a família, com a saúde, com o emprego, com o panorama atual do país… Além disso, estamos na semana que antecede a Páscoa!
Aí surge a angústia de não poder reunir a família e comemorar a data como estamos habituados.
É tanta informação ao mesmo tempo que fica difícil não deixar a ansiedade tomar conta. O perigo é que muita gente acaba descontando a ansiedade na hora de comer. Mais tempo em casa e com os nervos à flor da pele é o prato cheio para aquele famoso “comer emocional”. Quem se identifica?
A psicóloga Débora de Moraes Coelho, mestre em psicologia social e institucional pela UFRGS responde algumas perguntas para nos ajudar a entender um pouco melhor esse turbilhão todo que acontece dentro de nós, e como podemos amenizar os efeitos da ansiedade durante a nossa rotina de quarentena.
Quais os principais sintomas da ansiedade?
A ansiedade é, junto com a depressão, um dos quadros clínicos que mais acometem os brasileiros. Predisposição genética, fatores ambientais e até mesmo histórico familiar somados a pressão ambiental – trabalho, casa, crise pessoal, conflito familiar ou adoecimento podem aumentar a ansiedade, tornando-a constante e mais intensa.
É importante saber que a ansiedade produz sintomas físicos e psicológicos. Via corpo somos informados que nossa ansiedade galopa quando percebemos: dor ou aperto no peito e aumento das batidas do coração, respiração ofegante ou falta de ar, aumento do suor, tremores nas mãos ou outras partes do corpo, sensação de fraqueza ou cansaço, boca seca, mãos e pés frios ou suados e náusea.
Mentalmente experimentamos: constante tensão ou nervosismo, sensação de que algo ruim vai acontecer, problemas de concentração, medo constante, preocupação exagerada em comparação com a realidade, problemas para dormir e para se alimentar.
Existe o transtorno de ansiedade e também uma ansiedade “normal”, mas de certa forma controlada. Qual a diferença?
Tem uma diferença que é importante destacar: a ansiedade comum que conseguimos lidar e suportar e a ansiedade produzida por um distúrbio de saúde mental.
Como saber que a ansiedade está saindo do limite? Temos duas pistas: intensidade e duração. Se a produção de pensamentos e sentimentos de preocupação, angústia ou medo são fortes o bastante para interferir nas atividades diárias, já temos um alerta. Paralisar a vida, sentir dificuldades para trabalhar, estudar, socializar e amar são indicativos de que a ansiedade está desproporcional e atrapalhando a vida da pessoa.
Em muitos desses casos, para quem tem transtorno de ansiedade, como por exemplo quem tem crises de pânico, já faz ou precisa de acompanhamento psiquiátrico e psicológico. A psicoterapia ajuda a reorganizar a vida mental e emocional. O estresse desproporcional frente a decisões e impactos de eventos cotidianos, a incapacidade de superar uma preocupação e inquietação podem ser amenizados com tratamento adequado.
O mais importante é saber que a ansiedade pode ser manejada. Quem sofre pode aprender com seus sintomas um pouco da sua história, reconectá-la a infância para conhecer seus pontos de medo e conforto. Voltar a ter uma sensação de vida plena e de realização de suas potencialidades também é possível de acontecer, para isso é importante reconhecer suas dificuldades e pedir apoio.
O excesso de informação do momento atual pode ser um dos motivos para desencadear a ansiedade?
Com certeza, o excesso de informações e a facilidade em acessar todo esse conteúdo podem nos deixar em estado de espera pela próxima notícia. Neste momento de pandemia, tenho orientado os pacientes a escolher uma hora do dia, em um veículo confiável, para se informar. Brinco que é a hora da preocupação. Nossa mente já está em estado de alerta, aumentar o grau de angústia só vai provocar mais sofrimento.
Como a ansiedade do momento pode interferir na nossa alimentação?
Sabemos que alguns alimentos realmente trazem a sensação de prazer, a exemplo dos açúcares e carboidratos. Porém, na busca pelo prazer, algumas pessoas tendem a obter compensação emocional através da comida e acabam ingerindo alimentos desse tipo sem mesmo ter necessidade de comê-los. O alimento, então, vira combustível para apaziguar emoções e dar tranquilidade aos sentimentos em desequilíbrio. Ao mesmo tempo percebemos pessoas que não sentem fome, quando experimentam ansiedade sentem indisposição para comer e perdem o apetite.
O que é o ‘comer emocional’ e como podemos enfrentá-lo?
Comer mais rápido do que o normal, comer até se sentir cheio, comer grandes quantidades mesmo sem fome, comer escondido e até mesmo sentir repulsa por si e deprimido após o episódio.
Quem sofre com a fome emocional ou o comer emocional procura na comida uma forma de encontrar sensações agradáveis e se distanciar de sentimentos ruins, alcançando, de modo rápido e fugaz, alívio e conforto. Diversos fatores emocionais, momentâneos ou não, podem ser um gatilho para que a pessoa coma mais, mesmo sem a necessidade fisiológica de comer.
Para enfrentar essa questão é importante, antes de ir em busca do alimento, parar e perceber o próprio comportamento, desenvolvendo a mente para identificar se existe fome fisiológica (o estômago ronca?) se não, tentar nomear o sentimento que predomina no momento. O próximo passo, após saber qual o sentimento que domina e reconhecer do que se precisa – tranquilidade, amor, reconhecimento, respeito – receber, para daí fazer uma ação. Trocar a ida até a geladeira por um telefonema para alguém que nos ama.
Como trabalhar o autocontrole relacionado à alimentação em momentos de tensão e estresse?
É importante ter ou criar hobbies para que tenhamos práticas prazerosas para nos tirar do tédio ou equilibrar a tensão. O autocontrole só acontece quando nos conhecemos e desejamos ultrapassar nossas dificuldades. É um exercício que podemos fazer sozinhos, mas sempre é mais eficiente quando buscamos a condução de um psicoterapeuta e de um nutricionista. Se é um momento exigente também podemos ter auto empatia e não nos cobrarmos além das nossas possibilidades, ressalto isso pelo cenário tenso da pandemia e do isolamento.
A Páscoa nos dá uma certa ‘liberdade’ para nos jogarmos nos doces. Como evitar?
É verdade, nem sempre sentimos vontade de comer alimentos nutritivos e saudáveis, devido à rotina estressante e repetitiva na qual estamos, procuramos bem-estar em comidas calóricas e gordurosas. A regra de ouro é o bom senso, se permitir uma porção X, aproveitar para usufruir e ter seu momento de chocolover. Devorar as cestas das crianças, o chocolate da dispensa e ainda ter vontade de comer doces não nos protege de viver a angústia, própria da nossa época, no day after nem você, nem o mundo estarão melhor. A dica é aproveitar para compreender as emoções que estão mascaradas nessa vontade de comer.
Por Fluir Comunicação