Depressão e ansiedade
A depressão e a ansiedade nunca estiveram tão em alta como nos últimos tempos. Desde o começo da pandemia do novo coronavírus, especialistas já alertavam sobre as possíveis consequências para a saúde mental em razão do distanciamento social e o momento de incerteza.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão no mundo inteiro. Muitas vezes confundida com tristeza e desânimo, a depressão caminha lado a lado com a ansiedade – aquela sensação de frio na barriga e medo constante.
Para entender um pouco melhor sobre a depressão, a ansiedade e como podemos evitar que elas prejudiquem a nossa saúde, conversei com a psicóloga Roberta Bolla, mestre em Psicologia Clínica e com a médica psiquiatra Nina Furtado, doutora em Linguagem e Semiótica.
O que é e o que causa a depressão?
Nina Furtado: A depressão é um transtorno emocional que envolve aspectos orgânicos, como alterações da bioquímica corporal, aspectos sociais e, principalmente, aspectos emocionais. Caracteriza-se pela tristeza intensa, choro, falta de prazer e interesse nas diversas situações do dia a dia. A pessoa sente-se sem força e motivação para realizar as atividades que sempre exerceu.
Roberta Bolla: É um transtorno psicológico caracterizado por uma tristeza mais duradoura, tornando-se uma situação crônica que envolve a pessoa afetada em um clima de mal-estar. É um dos transtornos mentais mais comuns do mundo, afetando pelo menos 10% da população brasileira, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, de 2019.
Pesquisas sugerem que a depressão é causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos, constituindo-se assim em uma doença de causas multifatoriais. Os fatores que podem colaborar para o surgimento desse transtorno são: gênero feminino (acomete mais mulheres); fatores genéticos; algumas medicações podem causar quadros depressivos (os beta-bloqueadores geralmente usados em casos de hipertensão, corticoides, benzodiazepínicos, remédios para tratar a doença de Parkinson ou anticonvulsivantes, por exemplo); causas endocrinológicas (menopausa, pós parto, alterações hipotálamo, hipófise ou glândula adrenal); causas psíquicas, ou seja, o funcionamento de cada um, o que o indivíduo está vivenciando no momento, qual sua forma de perceber o mundo, bem como a constituição de seu desenvolvimento psíquico durante a infância.
Tristeza é sinônimo de depressão? Quais os principais sintomas?
Nina Furtado: Tristeza não é sintoma de depressão. Tristeza é um sentimento humano, natural, que acontece em pessoas que tiveram uma perda, uma mudança de vida, passaram por uma situação traumática. O que diferencia da depressão é a intensidade de sintomas e uma causa bem evidente. A depressão muitas vezes ocorre sem um desencadeante claro, pode durar muito tempo – anos, às vezes – e apresenta outros sintomas já citados e não somente a tristeza.
Roberta Bolla: A tristeza é simplesmente uma emoção causada por uma situação que nos magoa, é um estado mental passageiro. Cedo ou tarde a tristeza é solucionada. É uma reação psicológica, normal e natural que não indica nenhum transtorno mental, não necessita de tratamento, diferentemente da depressão, que deve ser tratada da forma adequada. Em um quadro de tristeza, o apoio dos familiares e uma mudança de ares podem ser suficientes.
Todas as pessoas estão sujeitas à depressão? Existe uma faixa etária mais propensa?
Nina Furtado: Sim, qualquer pessoa pode ter sintomas de depressão. Pode acontecer em qualquer idade e estar ligada à mudanças vitais, como na criança que sofre abandono, o adolescente que sente-se inseguro na busca de uma nova identidade, a menopausa ou a aposentadoria. Estes são alguns aspectos, entre outros, que podem desencadear depressão.
Roberta Bolla: Pode acontecer em indivíduos de qualquer idade, mas na maioria das vezes começa na idade adulta. Há alguns anos comecei a ver cada vez mais a depressão ocorrendo em crianças e adolescentes. Muito importante diferenciar irritabilidade de um transtorno de humor baixo, o que exige a avaliação de um profissional habilitado. Sendo a adolescência essencialmente uma fase de mudanças, é fundamental que os conflitos relacionados à família, baixa autoestima, ao fracasso escolar, as perdas afetivas, dentre outros, sejam observados. Os sintomas associados às condições de estresse emocional, podem colocar os jovens em grupo de risco para o suicídio. Por isso, é muito importante que os pais fiquem atentos.
E sobre ansiedade? Existe alguma causa específica?
Nina Furtado: A ansiedade pode estar presente na depressão, como em qualquer outro transtorno emocional. Caracteriza-se por sensação de aperto no peito, dificuldade de respirar, aflição e inquietação, ideia de incapacidade e muitas vezes de fugir de determinadas situações.
Outra vez, é importante diferenciar a ansiedade patológica da ansiedade natural, como certa apreensão frente a uma prova, uma exposição de trabalho ou situações sociais muito importantes.
Roberta Bolla: A ansiedade é o que chamo de um dos males do século. Nossa vida tem muitos estímulos ansiogênicos (telas, demandas, interações, excesso de atividades e opções, etc…). Ansiedade é um estado natural de atenção e de alerta que, quando provocado por situações específicas, dispara para uma reação exacerbada. Essas situações específicas agem como um gatilho mental, apresentando angústia e medo com relação à situações futuras como sintoma principal. Ela passa ser patológica quando atrapalha a rotina da pessoa. Além disso, quando não tratada, gera um desgaste emocional intenso e pode levar à depressão.
As mulheres têm quase três vezes mais chances de ter crises de ansiedade. O mesmo estudo da OMS que citei acima, aponta que 20% mulheres no mundo terão crises de ansiedade ao passo que somente 8% dos homens apresentarão tal quadro. Entre os indivíduos com TAG (transtorno de ansiedade generalizada), 20% desenvolve problemas com dependência ao álcool. Tais pesquisas foram realizadas antes da pandemia, apontando que 20% da população sofre de transtorno de ansiedade. Atualmente esse número certamente é maior.
Qual a relação da ansiedade com a depressão?
Nina Furtado: Tanto a ansiedade como a depressão exigem atenção. Muitos suicídios e sofrimentos intensos são causados por esses dois quadros psiquiátricos.
Roberta Bolla: Ansiedade é um dos primeiros sintomas da depressão, mas é importante ressaltar que nem todo ansioso está deprimido.
Qual a melhor forma de tratar a ansiedade e a depressão?
Nina Furtado: Sempre é preciso procurar ajuda, se possível uma avaliação psiquiátrica para avaliar qual melhor terapia e ações que possam aliviar o quadro.
Roberta Bolla: Sem dúvida fazendo psicoterapia pois esse trabalho promove o auto aprendizado. A pessoa aprende sobre si, transforma sua forma de ver a vida e de lidar com os eventos que lhe acomete, inclusive aprendendo quando está chegando a crise de ansiedade e, como já aprendeu sobre seu funcionamento, administra melhor a crise. Mas temos também outras formas paralelas de controlar e tratar ansiedade e depressão: meditação, respiração diafragmática, atividades físicas, hobbies inseridos na rotina, exposição controlada ao sol, regulação do sono, alimentação adequada, medicação (quando necessária e administrada por médico psiquiatra) e a identificação/administração dos pensamentos negativos, que a gente aprende a fazer na psicoterapia.
Por Fluir Comunicação