Como driblar os efeitos do envelhecimento?
Envelhecer é inevitável, mas existem maneiras de driblar os efeitos lançados pelo tempo, que não envolvem procedimentos estéticos! Estou falando de alguns hábitos que ajudam nosso corpo a se manter ativo e saudável por mais tempo. Para explicar direitinho como todo o processo acontece conto com a ajuda da fisioterapeuta Fátima Brum, que garante: é preciso se movimentar! Dançar, andar de bicicleta, fazer ioga ou outras atividades físicas são necessárias para se criar espaços tridimensionais de mobilidade dentro do nosso corpo. A fisioterapeuta explica ainda que é preciso manter e desenvolver esses espaços para garantir que a comunicação entre os músculos e o sistema nervoso siga ativada, e sem zonas densificadas.
Dançar, andar de bicicleta, fazer ioga ou outras atividades físicas são necessárias para se criar espaços tridimensionais de mobilidade dentro do nosso corpo!
Funciona assim: nosso corpo é todo coberto por tecido conjuntivo, também conhecido como fáscia. Músculos, órgãos, vísceras, tendões, articulações, sistema nervoso central… tudo é revestido por fáscias. E para que essas partes do corpo se comuniquem e se comportem dentro de uma unidade funcional, existem internamente conexões chamadas de sistema neuromiofasciais. Durante o processo do envelhecimento o tecido conjuntivo envelhece junto e assim cria densificações entre as fáscias e os músculos. A densificação ocorre quando a viscosidade do ácido hialurônico presente nas camadas das fáscias profundas aumenta – o mesmo ácido hialurônico usado em procedimentos estéticos de preenchimento, é também responsável pelo deslizamento entre os músculos. Ele já existe naturalmente no nosso corpo, todos nós produzimos ácido hialurônico ao nos movimentarmos. Quando essas densificações se instalam, ele se torna mais consistente e menos fluído, as conexões neuromiofasciais com o sistema nervoso diminuem, sua comunicação é prejudicada, os movimentos são perdidos, e o corpo passa a apresentar rigidez, restrições e perda de movimentos, ou seja menos espaço interno a fisioterapeuta compara com a massinha de modelar quando seca e endurece.
O vídeo acima mostra onde se encontram as fáscias no corpo humano.
Quando alguém afirma que ao se mover depois de determinado tempo parado em uma posição ficou “duro”, é sinal de enrijecimento do ácido hialurônico. Por isso, mexa-se! Se esse enrijecimento já se instalou por mais tempo, ele pode ser revertido através de exercícios orientados por um profissional da área da saúde, que vai resgatar a mobilidade articular afetada ou pela terapia manual chamada de liberação miofascial, que age para liberar esse tecido mais denso e integrá-lo novamente ao movimento, fazendo os músculos voltarem a ter mais liberdade de deslizamento entre si. O movimento por si só já possibilita muita mobilidade, mas é importante ter em mente que as duas alternativas são complementares, sempre potencializando os resultados uma da outra. Para os casos crônicos o movimento sozinho não é capaz de reverter o quadro, sendo necessárias as técnicas manuais. A movimentação aparece como complemento para a reabilitação, além de ser a principal alternativa para prevenir o enrijecimento.
O vídeo acima mostra a fáscia em movimento. Na imagem superior a fáscia apresenta o processo de enrijecimento, enquanto na imagem inferior temos um exemplo do seu funcionamento saudável.
Quando falamos em movimentação do corpo humano, precisamos compreender que ela acontece em múltiplos planos e de maneira simultânea! O corpo foi feito para se movimentar de diversas formas: para frente, para os lados, para trás, em espiral… e não apenas em linha reta. A forma como cada um vai reprogramar um padrão disfuncional de movimento é muito particular, pode ser através de aulas de yoga, dança, treinamento funcional, movimentos com balanceios, ginástica natural, entre tantas outras atividades físicas. Fátima ainda fala sobre um tipo de movimento que muitas vezes passa batido: a respiração. Segundo a fisioterapeuta, o ato de respirar é um exercício muito importante, e quando combinado com outros movimentos aumenta o ganho de amplitude dos mesmos, principalmente, quando se faz a respiração diafragmática porque cria um espaço virtual dentro do nosso tórax na medida que empurra as vísceras em direção ao assoalho pélvico durante a inspiração. Esse movimento amplia a possibilidade de mobilidade nas vísceras, enquanto sua expansão lateral aumenta a força dos músculos transversos do abdômen e dos músculos eretores das costas – aqueles que nos mantém eretos.
O corpo foi feito para se movimentar de diversas formas: para frente, para os lados, para trás, em espiral… e não apenas em linha reta.
A perda de massa muscular, conhecida como sarcopenia, acontece durante o processo de envelhecimento. Estudos apontam que 30% dessas perdas musculares vem das falhas de comunicações neuromiofasciais, e que podem ser evitadas quando colocamos em prática a palavra mágica: movimento. E aqui chegamos ao ponto crucial: de acordo com a fisioterapeuta Fátima Brum, uma pessoa só envelhece realmente na medida em que perde a resposta proprioceptiva de movimentação, ou seja, quando perde a capacidade da consciência espacial do corpo: mobilidade, controle motor e força muscular. Por exemplo: quando o idoso começa a perder mobilidades tornozelo não elevando a ponta dos pés, o seu caminhar passa a ser arrastado, consequentemente problemas de desequilíbrio falta de ativação dos músculos extensores do dedos levando assim a maior incidência de quedas. Isso é reflexo da diminuição das conexões dos retináculos presente nos tornozelos.
De acordo com a fisioterapeuta Fátima Brum, uma pessoa só envelhece na medida em que perde a capacidade da consciência espacial do corpo: mobilidade, controle motor e força muscular.
Estudos recentes da família Stecco na Itália, publicado em março de 2018, mostram que independentemente do avanço da idade, a fáscia se mantém igual. Na ocasião foram comparados a fáscia toracolombar de crianças de aproximadamente 12 anos, com adultos de 65 anos e foi constatado que o que muda é a movimentação. Uma criança têm por hábito se movimentar bastante, enquanto os adultos vão se movimentando cada vez menos. Isso fez com que o grau de deslizamento do ácido hialurônico, medido pelo ultrassom, seja muito menor em quem se movimentava pouco, ainda que fisiologicamente todos apresentassem condições iguais.